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"Eu sabia que havia algo para mim ali, algo muito pessoal, relacionado à descoberta de quem eu sou, que eu precisava viver e entender."

Os textos que você encontra aqui foram originalmente publicados na minha newsletter semanal, que é enviada todas as segundas às 11h, horário de Brasília. Neste mesmo dia e hora, atualizo esta página com o texto enviado na semana anterior. Clique aqui para assinar a news e não perder as atualizações!

Milão, fevereiro 2022


Na minha primeira semana na Itália, decidi ir para Milão. Eu não conhecia a cidade ainda, então peguei um trem na estação Santa Maria Novella e fui passar o final de semana por lá, certa de que me divertiria com todo aquele contraste entre o antigo e o moderno que eu tanto havia ouvido falar. O trem sairia cedo pela manhã no sábado, e me lembro de estar completamente coberta com camadas e camadas de roupas e lenços - ainda era inverno e as temperaturas geralmente eram negativas ao amanhecer. Comprei um café na esperança de que ele iria me aquecer, e quatro horas depois a voz feminina do trem anunciava a chegada em Milano Centrale.

Toda a minha estadia na Itália foi recheada de pequenos momentos que funcionaram como confirmações de tudo aquilo que eu achava que sentiria naquele país. E não foram os momentos extraordinários, como experiências turísticas incríveis - como eu disse na newsletter anterior, é fácil se encantar sendo turista - mas sim os pequenos e quase discretos instantes que foram capazes de me causar uma emoção desproporcional. Eu já havia sentido algo ao me dar conta de que estava na Ponte Vecchio (como contei na semana passada), e naquele final de semana em Milão eu vivi mais um deles.





Eu estava caminhando pela exposição de Design Italiano na Trienale quando não consegui conter o choro. E não foi aquele choro discreto, que a lágrima escorre lentamente pelo canto do olho, foi um choro de soluçar, de querer me esconder dos outros visitantes que não conseguiriam entender o motivo daquela tempestade nos meus olhos no meio de uma mostra sobre cadeiras. Liguei para minha mãe achando que a ligação poderia me acalmar, mas chorei mais ainda.

Acho que naquele momento eu chorei porque eu estava em um lugar que reunia todas as coisas pelas quais eu me interessava na vida - idiomas, design, interiores, fotografia, arte. Eu estava em um lugar que respirava aquilo, e isso me causou uma excitação de querer viver aquela vida, aprender, estudar. A Itália fazia eu me sentir ignorante, e não de uma forma ruim, pelo contrário - ela me dava a sede da descoberta, da curiosidade, como se de alguma forma aguçasse todos os meus sentidos. Era disso que eu sentia falta e não sabia.

Acho que durante as primeiras semanas por lá meu emocional se alternava entre a grande excitação pela novidade e a culpa, como em uma montanha-russa mesmo, onde os pontos altos eram realmente altos e os baixos... profundos. Profundos mesmo, dentro de mim. Eu precisava mesmo estar do outro lado do mundo para me sentir curiosa? Precisava ter deixado tudo e todos pra trás para embarcar nessa aventura e dizer que estava feliz porque estava na Itália? Por que eu não conseguia encontrar aqueles sentimentos e aquela felicidade toda em casa, perto da minha família?

Eu questionei meus próprios sonhos muitas vezes, quase que em autocrítica, como se eu estivesse deslumbrada - e acho que o deslumbramento é o meu pior pesadelo. Eu sonho, sonho muito, mas sempre me considerei uma pessoa pé no chão... será que eu tinha me tornado alguém que eu mesma não gostava? Muitas vezes eu me aprofundei em todas aquelas perguntas, como se eu não estivesse me permitindo ser feliz ali. No fundo, acho que era por isso que eu chorava tanto. O que estava preso no peito, escapava como lágrima.

Eu tenho amigas de infância que hoje estão casadas, construindo suas famílias. Uma delas está prestes a dar à luz ao segundo filho, e olhando para ela vejo que ela está realizando o sonho da vida dela. Ela nasceu para ser mãe, e vê-la realizar aquele propósito me deixa extremamente feliz por ela. Outra se dedica à profissão, passando a maior parte do tempo indo a infinitos congressos para se tornar o melhor que ela pode na área dela. Acompanho tudo de longe, pelo Instagram, e também fico igualmente feliz por ela a cada diploma que a vejo conquistar. Umas tocam suas próprias marcas, outras se mudaram de cidade, algumas pretendem engravidar em breve. Há também aquelas que ainda estão buscando seus caminhos, suas respostas, cada uma a seu tempo. As pessoas tem sonhos diferentes, e o meu era a Itália...

...E não havia nada de errado naquilo.

Até semana que vem,

S.

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