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"Eu sabia que havia algo para mim ali, algo muito pessoal, relacionado à descoberta de quem eu sou, que eu precisava viver e entender."

Os textos que você encontra aqui foram originalmente publicados na minha newsletter semanal, que é enviada todas as segundas às 11h, horário de Brasília. Neste mesmo dia e hora, atualizo esta página com o texto enviado na semana anterior. Clique aqui para assinar a news e não perder as atualizações!

Brasil, pandemia, maio 2021

Essa é a parte dessa newsletter em que não vou tentar me defender. Estar à procura de si é um ato extremamente egoísta. Necessário, mas egoísta porque as pessoas ao seu redor não deveriam ter que esperar enquanto você encontra suas próprias respostas.

Durante todo o período em que planejei e desejei a minha vinda para a Itália, minha vida ficou em pausa. Eu sentia como se não pudesse viver a vida no Recife completamente pois, a qualquer momento, o dia da viagem chegaria e eu teria que deixar tudo para trás. Eu queria viver aquele sonho de peito aberto, o mais livre que pudesse, e havia algo dentro de mim que simplesmente não se permitia viver nada mais além daquela espera. Até que percebi que, por não ter uma data certa, eu não estava vivendo nada - nem o sonho, nem a vida real.




Eu magoei pessoas nesse processo. Coloquei tantos poréns nas minhas relações que jamais seria capaz de escrever aqui. Durante esses dois anos e meio, perdi amores e amigos, "não vou fazer isso porque devo ir embora em breve", era o que eu sempre dizia. Vendi todos os meus móveis, deixei de comprar plantas, tudo virou uma longa espera até o dia em que as fronteiras finalmente estariam abertas. Eu criei aquilo, eu inventei aquilo, e aquele desejo tinha crescido a tal ponto que já não tinha mais volta. Eu não tinha como desistir, como mudar de ideia, afinal aquela viagem era a coisa que eu mais queria na vida. E era difícil explicar isso para as pessoas - de algum modo elas sempre se sentiam como um anexo, enquanto a minha fantasia com a Itália era a minha prioridade.

Mas no caminho houve uma pessoa que aceitou todas as minhas vírgulas, todos os meus poréns, e não apenas entendeu e me ajudou com meu processo de autodescoberta como me mostrou que a vida também acontece agora, e não apenas na espera. Foram muitas as vezes em que ele me viu chorando - às vezes nossa insatisfação e infelicidade são mais transparentes do que a gente pensa. Na semana em que nos conhecemos, me lembro de ter olhado nos olhos dele e dito "você sabe que estou indo embora, não sabe?". Ele apenas acenou com a cabeça. Hoje entendo que aquele silêncio foi a forma dele de dizer que sim, ele sabia, e que estava presente ali naquele momento, curtindo o tempo que fosse, consciente de que poderia durar uma semana, um mês, um ano. Não tinha como saber, e mesmo assim ele decidiu viver. Eu não conhecia um sentimento tão genuíno e altruísta até conhecê-lo. Eu, com tantos poréns, ele, dando tudo que tinha. A vida tem dessas coisas de colocar pessoas no nosso caminho quando a gente acha que não é o momento certo. Mas talvez seja o momento em que a gente mais precisa.

Tudo bem a gente ter um sonho, mas olhar para o hoje também é importante. Encontrar o equilíbrio entre as duas coisas que é o real desafio.Até hoje não sei se fiz as coisas da maneira certa, mas no fundo eu também sabia que não poderia ser algo para alguém se eu não pudesse ser para mim mesma. Eu me sentia louca - como eu poderia estar sendo tão teimosa em um momento tão louco no mundo? - mas algo dentro de mim sabia que eu precisava vir, eu pre-ci-sa-va viver aquilo, de uma forma que jamais faria sentido para ninguém a não ser pra mim. Até hoje, quando me perguntam o porquê disso tudo, ainda não sei explicar. Havia algo dentro de mim que falava mais alto, e eu me agarrava ao pensamento de que, se não fizesse essa loucura neste momento da minha vida, aos quase 30, eu não faria nunca mais.

Continua na próxima semana.

S

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